quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Eu era uma menina quando te vi pela primeira vez. Completamente menina, de tudo: corpo, alma, coração, aparência. Eu deveria ter no máximo 11 anos de idade, mas não vou me esquecer de como sua imagem permaneceu marcada em meus olhos. Você era consideravelmente mais alto que eu, tinha os olhos claros e firmes. Seus cabelos (que lhe caiam sobre os olhos) eram loirinhos, loirinhos, pareciam fios de lã, de tão loiros. Até aquele momento você era, definitivamente, o garoto mais lindo que eu já havia visto em toda a minha vida.

E você, Bento, foi apenas você. Foi simplesmente uma das melhores pessoas que cruzaram o meu caminho. Você me fez feliz, plena, contribuiu para que eu entendesse mais sobre amor e sentimentos.

É uma pena que você tenha que ter ido embora assim, tão cedo, sem eu poder ter lhe conhecido melhor como o adulto que você se tornou. É sempre triste quando temos que dizer adeus a alguém tão jovem, dessa forma tão bruta, sabendo que nada eu poderia fazer pra te ajudar. E é ainda triste termos que presenciar cada vez mais partidas, conforme o tempo vai passando.

Nunca me esquecerei de você, menino loiro. Nem dos seus olhos galáticos, e nem daquela tarde cheia de gritos eufóricos pré adolescentes, que ecoavam céu afora, enquanto brincávamos de esconde-esconde no meio da rua e pela primeira vez na vida eu esqueci o rumo de casa. Fique em paz e que Deus te abençoe.
E aí você foi embora como se nada tivesse acontecido. Levou contigo aquela sua frieza tórrida que nem as minhas chamas interiores conseguiram derreter. Fechou a porta com força, e provavelmente nunca sentiu remorsos, afinal, nunca mais me procurou.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Como manter a cabeça erguida e crer que há 'uma força dentro de mim' se fracasso nas coisas mais banais do universo? Acho que 'tente outra vez' devia ser o lema da minha vida.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Afeto é a palavra que move a minha vida.

Talvez isso seja ruim, pois consigo transformar as coisas mais singelas em coisas ardentes. Talvez não... Talvez seja necessário que eu continue sentindo esse enorme afeto que sinto para conseguir me erguer como ser humano.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Provavelmente nunca direi isso a você, olhando nos seus olhos ou dando um abraço de agradecimento, mas... O gesto que você teve comigo aquele dia significou muito para mim, foi muito importante. Me fez sentir como uma pessoa de verdade. E serei eternamente grata, ainda que eu não saiba como agradecer devidamente.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Escrito em 2009.

Ela o observava através do vidro quebrado. As rachaduras distorciam a face dele, multiplicando aquele olhar fundo e abatido, quase resignado, não fosse uma pitada de indiferença. Ela queria tocá-lo, mas não podia. Ele estava através do vidro. Ele olhava para algo que ela acreditava ser sua imagem desgastada e infeliz. Aquele olhar frio, que um dia fora sua principal fonte de vida. Tempos distantes. Ela não sabia medir esses tempos cronologicamente, mas o relógio que morava dentro de sua alma aflita, apontava uma única palavra: Forever.
Ele, com sua face um pouco baixa, parecia querer dizer algo, mas não tinha voz. Ela queria se ajoelhar diante dele e suplicar sua piedade, mas ele vomitava indiferença pelos olhos. Ela queria perguntar que tipo de homem ele era, mas sabia o vazio que a aguardava em tal resposta. Ela suplicava com o olhar.
De repente, ele se moveu. Ela correu em direção ao vido quebrado, e tentou atravessá-lo. Não se importava mais com feridas físicas. As que haviam em sua alma, eram deveras muito maiores. Cortou o braço na tentativa de passar para o outro lado do vidro.
Foda-se.
Aquilo não era nada.
Colocou as mãos sobre o vidro e pressionou-o. Em vão.
Ele tocou, através do vidro, as marcas das mãos dela, de leve, com uma espécie de receio ou nojo. O toque durou quase um segundo.
Ele se virou. Estava se afastando, indo embora. Ela gritava por dentro.
Enquanto andava, ele olhou para trás, e pela última vez, encarou-a com aquele olhar.
Partiu.
Ela estava nua, e o chão era gélido.
Ela nunca mais o viu.
Você tem o nome lindo. Desde antes de te conhecer, eu já admirava o seu nome. Pensei, por vezes, em presentear a possível filha que terei um dia com o seu nome, mas já é tarde demais. O seu nome, para mim, representa apenas você. Não acho que haverá outro alguém com esse mesmo nome que conquiste um espaço tão grande em minha vida tal foi o que você conquistou.



Amizade é uma coisa estranha, não é? Inexplicável, da mesma forma que é inexplicável a maneira como o afeto nasce (sua forma inicial é crua e desejosa de ser trabalhada) e se desenvolve até atingir o seu ápice. Não sei se já cheguei no ápice do afeto, mas se não cheguei, passei bem perto. Sinto que a amizade é um vasinho de flor que precisa ser regado, cuidado e observado, para que não vá embora. É preciso que o dono do vasinho queira cuidar de sua flor, mas a flor também precisa querer ser cuidada. É aí que existe a reciprocidade.


Não sei dimensionar o carinho que tenho por você. Não sei colocar em palavras como me sinto bem ao seu lado, e como a sua presença me faz sentir especial. Quando estou ao seu lado, sinto que não sou uma inútil completa, sinto que sou uma pessoa. Gosto do som da sua risada, gosto da maneira que ela me faz rir. Para mim, você não é uma pessoa, e sim uma estrela.

Depois de todos esses anos, depois de todas essas confusões loucas, intensas (e até mesmo trágicas) que ocorreram em minha vida, me sinto extremamente feliz em saber que mantive você ao meu lado. Nem que por vezes tenha sido aos trancos e barrancos, mas de qualquer forma, você está aqui. Eu não poderia esperar mais, já que foram tantas as pessoas que acenaram para mim com o lenço branco, dizendo adeus.

Amo você como amaria uma irmã de sangue, ou até mais. Porque irmãos de sangue a vida não nos permite escolher, mas irmãos de coração, temos toda a liberdade para dar a chamada inicial. Espero que isso nunca acabe, e que estejamos sempre juntas.. como naqueles tempos dourados ou como agora.

sábado, 3 de dezembro de 2011


Eu tenho a alma hippie, em essência, ainda que o movimento hippie tenha acabado há mais de trinta anos. Gostaria de ter o espírito livre, mas tenho total consciência de que necessito trabalhar muito para conseguir a liberdade do meu espírito. Apesar de ainda ser presa dentro de mim, aprecio a natureza e a respeito como uma semelhante a mim. Os animais são como irmãos; merecem todo carinho, cuidado e amor do mundo. Assim como as plantas, os minerais, o sol, o vento. Não tenho medo de viajar, pois aprecio o novo: novas culturas, novas paisagens, novas pessoas, novas estradas. Não tenho medo de interagir com as pessoas, não importa qual seja a idade delas. Acho que todos têm algo a  ensinar, por menor que possa parecer essa possibilidade. O mundo é bonito, cheio de cores, cheio de momentos desejosos de serem capturados para sempre, para dentro de nossa memória e coração. Basta abrir a mente e correr até eles; afinal, eles estão logo ali.
-


Apesar de ter a alma essencialmente hippie, há algo de punk dentro de mim. Eu gosto do caos, da desordem. Gosto de paredes riscadas com frases pesadas, porém realistas. Gosto de olhos borrados de maquiagem escura, pois eles passam uma ideia de profundidade; essa maquiagem escura é capaz de aprofundar até mesmo os olhos que já vieram ao mundo extremamente profundos. Gosto de palavras, imagens e músicas que me fazem queimar por dentro. Eu só mantenho qualquer tipo de relacionamento com aquilo que me faz ferver, queimair. O morno não me atrai e a perfeição me enjoa. Sou um paradoxo, ou seria melhor dizer que sou uma antítese? Sou dois em um. Não acredito na humanidade, ao mesmo tempo em que acredito desesperadamenet. Acredito que não há solução, embora eu esteja sempre procurando a solução. Sou hippie e sou punk. Sou claro e sou escuro. Sou Yin e Yang. Sou muitas misturas, mas sem nunca apagar meu fogo.

domingo, 27 de novembro de 2011

Enfim, Férias!

É esse o grito que eu espero, durante todo o semestre, poder dar.
Enfim, férias!
Férias do acúmulo de exercícios, férias das pessoas que sou obrigada a conviver diariamente (o que nem sempre é de todo ruim), férias de acordar cedo, férias dos afazeres. Acontece, que quando a mente descansa do que a rotina nos impõe, ela passa a trabalhar em cima daquelas coisas que somos obrigados a conviver independente do dia-a-dia.

Aqui estou, mais uma vez, plantada na frente desse computador em uma noite de Novembro. Quantas milhões de vezes esta mesma cena não se repetiu, sempre acompanhada de sentimentos de perda e de solidão? Às vezes, esses sentimentos de perda são capazes de me sufocar - ou quase. Parece que a cada dia que passa, as perdas são maiores. Parece que a cada ano eu fico mais afastada daquela que eu gostaria que fosse minha realidade. Como se não bastasse o tempo roubar da gente os nossos melhores momentos, ele também é capaz de nos roubar as pessoas.

As férias trazem esse sentimento de vazio, de ausência, de perda. Não que eu realmente possua algo, de fato, dentro da minha rotina; mas essa mente ociosa me faz viajar para épocas onde tudo era diferente, onde eu me sentia capaz de tudo. Parece que meu universo se distorceu por inteiro durante todo esse tempo, e hoje, não sou capaz de nada.

sábado, 19 de novembro de 2011

Feliz Aniversário.

Feliz Aniversário;

Isso era o que eu queria poder desejar a você, no dia de hoje. Gostaria de olhar nos seus olhos e dizer "parabéns a você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida" e, em seguida, lhe dar um longo e carinhoso abraço, afinal, é assim que os bons amigos fazem, não é verdade?

Bons amigos. Fomos muito mais que isso em um período de nossas vidas. Fomos, basicamente, a razão do existir um do outro. Em pouco tempo, eu me tornei o seu porto seguro, e seu ponto de luz; e você se tornou minha redenção. Vivenciamos uma linda história de amor juvenil, digna de um filme da sessão da tarde, mas a tórrida paixão que tomava conta de nós, não era tão juvenil assim...

Posso me lembrar do seu cheiro, e da maneira que ele ficava grudado em mim quando nos abraçávamos. Seu abraço era quente e confortável. Nos encaixávamos perfeitamente bem no corpo um do outro devido às proporções de nossos pequenos tamanhos. Eu conhecia seu toque, seus braços, seus traços. Eu conhecia o cheiro que ficava impregnado em mim enquanto eu voltava para casa caminhando, e pensando em você.  Me lembro do seu hálito de halls ou de trident azul. Até hoje esses sabores me trazem uma enorme nostalgia.

Para mim, você possuía o sorriso mais bonito do mundo, os olhos e sobrancelhas mais lindos que eu conhecia, Eu via em você um homem... Um homem que concretizaria todas as minhas perdições, embora ainda fosse um jovem menino, não tão corrompido com as loucuras da sociedade.

Ainda se fosse hoje, eu reconheceria a textura das suas mãos, e a maneira como vorazmente seguravam as minhas. Às vezes, quando você segurava a minha não, eu tinha a impressão de que nunca mais a soltaria.

Eu não era capaz de compreender você.  Havia tanto amor entre nós, que até mesmo pessoas que eu mal conhecia tinham certeza de que éramos namorados. E não éramos. Nunca, em nossas vidas, trocamos um único beijo apaixonado sequer; embora não me faltassem impulsos para isso. Às vezes eu sentia que você brincava comigo, mas ao ver seu iluminado rosto em prantos, me pedindo para não ir embora, tive a certeza de que tínhamos um elo muito forte. Ninguém nunca chorou por mim daquela forma, na minha frente, sem medo de me deixar saber quão grandes eram os sentimentos que o envolviam. E tenho certeza de que isso nunca voltará a acontecer. Ninguém irá chorar por mim daquela forma, novamente.

Eu tinha certeza de que éramos eternos. Poderíamos permanecer como amigos, mas eu tinha certeza que a chama que havia entre nós nunca acabaria. Certezas que morreram, ao longo do tempo.

Você me disse 'eu te amo' com força, sem medo. Havia vontade nas suas palavras. E meu coração explodia ao ouvi-las. Éramos dependentes do amor um do outro, e eu não queria, por nada desse mundo, me separar de você. Acho que você é o responsável por grande parte das mudanças que ocorreram em mim durante todo esse tempo. Se eu não tivesse você a perder, talvez teria ficado em meu caminho, e me tornado menos medíocre naquilo que eu fazia.

Enfim, hoje é seu aniversário. Eu gostaria de desejar toda a felicidade do mundo a você, por mais que eu não tenha esperanças de te ver novamente, um dia. Ocasionalmente, talvez, mas não tenho a ilusão de que eu vá te abraçar novamente sem essa parede de concreto que foi criada entre nós, pelo tempo.

Eu me esforcei. Eu tentei de todas as formas te manter na minha vida. E ainda tento, afinal, da minha vida você não foi embora, apesar de você já ter me expulsado, elegantemente, da sua, há muito tempo. Eu não entendo o por que da chama ter se apagado, mas tenho consciência de que nada disso dependeu de mim.

Nunca me esquecerei dos trechos de música que você me enviou. Sim, aqueles.
Você jurou que me amaria mais, mas eu sabia que não era a verdade.

Muitas felicidades para você, e muitos anos de vida.

Deus te abençoe.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Meu desejo de parar de sentir é tão forte, que talvez um dia eu consiga.
Quero ser indiferente. Sem expectativas, sem frustrações, sem ilusões, sem tristezas, sem solidão. 
Quero parar de acreditar em todas essas mentiras sem fundamentos que me contam.
Afinal de contas, o que é a vida, se não uma grande mentira com um grand finale extramamente previsível?
Ao longo da vida, são muitas as pessoas que escrevem na última folha desenhada do seu caderno adolescente: "Conte sempre comigo!". Durante as festas, momentos de diversão, são muitos os abraços e as palavras de carinho e afeto: "Te amo, velho! Vou estar sempre aqui para você, nunca se esqueça!". Também são inúmeras as declarações de amor eterno diante do sol nascendo: "Vou te amar para sempre."

São tantas palavras, tantas promessas, tanta intensidade fajuta, que ela acaba se perdendo com o vento, com o tempo. Os escritos do caderno vão embora assim que ele se perde no fundo de um armário antigo; as palavras de afeto ditas durante as festas se acabam pouco depois que a diversão termina. E o 'vou te amar para sempre' se apaga quando o sol se põe novamente.

No final das contas, nada passou de ilusões construídas. Pura banalidade acreditar nisso tudo, nessas mentiras que as pessoas contam (sem pensar) o tempo intero. Todo mundo vai embora, e no fundo, a verdade é que ninguém se importa. E por que deveriam se importar? Todos possuem uma vida independente da existência de outrem. Eu deveria aprender isso. Passam os anos, os dias, as horas, e eu continuo aqui, batendo com a cara no chão por não ter aprendido antes.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

- Minha carência é muito mais espiritual do que física.


- Já a minha carência, é inteiramente musical.

sábado, 5 de novembro de 2011

Estamos em uma dimensão diferente.
Eu estou na minha dimensão verde-musgo com rajadas cinzentas, enquanto você está na sua dimensão cheia de cores festivas.
É difícil fazer uma comunicação entre duas dimensões tão distantes uma da outra, mas as nossas almas ainda são capazes de se comunicar.

Enquanto houver tudo isso que pulsa aqui dentro - todas as lembranças de uma época que não volta mais, mas que ficou marcada em nós; todos os momentos que nada poderá apagar e todas as coisas boas que já fizemos um para o outro - estaremos juntos.

Não importa a sua dimensão, e não importa a minha.
Fique bem, amigo.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O que foi que aconteceu comigo? Outro dia, nessa mesma época do ano, eu era uma garotinha extremamente viva que adorava tomar chuva com os amigos na porta do colégio.Eu adorava a hora do 'recreio', a hora da saída, eu adorava o fato de ter uma adolescência inteira pela frente, um mundo de oportunidades e momentos para serem desfrutados.
Eu tinha amores platônicos e escrevia cartas que nunca seriam entregues. Eu acreditava nas verdades emocionais criadas por mim, sobretudo, criadas por meu coração.
O frio da chuva gelada não me incomodava, desde que eu pudesse observar os gêmeos de longe; eles não faziam ideia de como eu gostava deles! Enquanto um se escondia da chuva, o outro se molhava inteiro. E eu ria, pensando como podiam ser tão fisicamente iguais e tão diferentes psicologicamente. Quase morro de saudades deles, quase morro de saudades daquilo tudo. Onde foi que eu me perdi? Ou será que foi o tempo que me perdeu?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

How could you know, Woolf?

 
 
Time it took us
To where the water was
That's what the water gave me
And time goes quicker
Between the two of us
Oh, my love, don't forsake me
Take what the water gave me

Lay me down
Let the only sound
Be the overflow
Pockets full of stones

Lay me down
Let the only sound
Be the overflow

And don't pour at us
The world's beast of a burden
You've been holding on a long time
And all this longing
And the shields are left to rust
That's what the water gave us

So lay me down
Let the only sound
Be the overflow
Pockets full of stones

Lay me down
Let the only sound
Be the overflow

'Cause they took your loved ones
But returned them in exchange for you
But would you have it any other way?
Would you have it any other way?
You could have had it any other way

'Cause she's a crueller mistress
And the bargain must be made
But oh, my love, don't forget me
When I let the water take me

So lay me down
Let the only sound
Be the overflow
Pockets full of stones

Lay me down
Let the only sound
Be the overflow

So lay me down
Let the only sound
Be the overflow
Pockets full of stones

Lay me down
Let the only sound
Be the overflow

domingo, 30 de outubro de 2011

- Mas você ainda o ama?


- É claro que amo. E vou amar sempre. Eu não tenho a capacidade de parar de amar alguém.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Meus traços de Ellen West.


"...Sente uma crescente necessidade de viver a sua vida em termos das expectativas de outros, já que seus próprios impulsos não merecem crédito. Não é difícil ver porque ela começa a se menosprezar pouco depois deste período, e mesmo a perceber a morte como “uma mulher gloriosa”. Afinal, ela não passa de organismo indigno de confiança, um aglomerado ilusivo de experiência que merece desprezo. Seu diário registra “sombras de dúvidas” e “pavor”, que logo se traduzem em pavor à obesidade. Tampouco é surpreendente que ela tema “os espíritos maus” em si própria – os sentimentos não aceitos e negados que a assombram.
         Certamente não foi este o primeiro afastamento real entre o seu self e seus sentimentos subjacentes, mas parece haver pouca dúvida de que foi profundamente significante. Teve longo alcance na destruição de sua confiança em si mesma como um ser capaz de autonomia. Embora ela recupere sua vivacidade e conheça períodos felizes, abdicou de uma parte de seu self e introjetou como seus próprios os sentimentos de outras pessoas.
         Durante esta fase, ela apresenta constantes flutuações. Quer fazer algo grandioso. Deseja uma revolução social. Trabalha arduamente como estudante. Estabelece salas de leituras para crianças. Mas, em certos momentos, é “um verme tímido, terreno”, anseia pela morte, e pede a seu tutor que lhe repita a sentença “os bons morrem jovens”. Por vezes, “a vida triunfou novamente”.  Mantém um “caso desagradável com um professor de equitação”. Passa por um “colapso nervoso”. Preocupa-se exageradamente com seu peso..."
Embora eu aparente não me importar, embora eu finja não estar nem aí...
Eu tenho tanto medo que isso me deixa assombrada.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Era um extraordinário ser
de cabelos amarelos
Olhos duros, porém singelos
Que remtiam a algo sagrado
Espírito franco, legendário
Tinha a aura quase de um Cristo
Pré-Crucificado

Mártir de sua própria vida
Ele quis ir além
Morreu sendo herói
Viveu cercado de santos
roubados de cemitérios
Ele tinha a alma extremamente nobre
Mas não se conhecia tão bem.

O Iluminado

Há muito mais do que um jovem áspero por trás dessa aparência firme e sólida. Eu não diria que você é somente um gênio, porque isso seria incapaz de te definir em sua humanidade. Então, quem é você, garoto?
Um vulcão em constante erupção, eu diria. Você é daquelas pessoas que se deixam queimar por dentro, que só aceitam algo se queimar por dentro. Você não teme ser julgado, desde que consiga seu próprio espaço. E não é que conseguiu mesmo?

Por trás de tantas piadas ásperas, há um jovem homem humano, que criou as asas ideais para mudar o mundo. Sua revolução começa à partir de você mesmo, para depois tocar cada vida que cruza seu caminho. Você é um transformador de vidas, de mundo, e até de universos.

Eu sempre digo que há uma luz em cima de você. E sempre será assim, não importa onde você esteja. Você será o centro, O ILUMINADO.

Você é um herói humano, um gênio que esconde a fragilidade por trás da enorme inteligência.
Mas, acima de tudo, você é O portador da luz.
São como rios
Espalhados pelo corpo
Rios marcados, profundos
Que se encontram em algum lugar.
Tornam-se um oceano
Que deságua sobre meus olhos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Azul, Amarelo e Verde.

Um par de olhos azuis
Outro par de olhos amarelos
E mais um par de olhos verdes

Três pares de olhos sempre unidos
Procuravam-se incessantemente
Na esperança de se encontrarem

Azul
Amarelo
Verde

Olhos
Mãos
Sorriso

Olhos intensos e fulminantes
Mãos belas e penetrantes
Sorriso sério, inquietante

Um par de olhos é caos
Outro é desordem
Mais um é a mistura, adicionada a bondade

Azul pulsa
Amarelo decodifica
Verde sente


Três pares de olhos
Sempre juntos
Sempre tentando se encontrar.

JDR

J. tocou o interfone do apartamento de R. Era o início de uma chuvosa noite de Sexta-Feira, e o céu contava com tonalidades alaranjadas, apesar da escuridão. J. não usava sombrinha e nem capa-de-chuva. Naquele momento de sua vida, tomar chuva era uma das poucas coisas que ela fazia com segurança, sem qualquer dúvida ou receio. Não importava em se molhar; sua preocupação com a aparência já havia desaparecido há muito tempo. 

"Gosto de andar na chuva, porque assim, ninguém sabe que estou chorando."

- Quem é? - a voz grave de R. ecoou pelo interfone.
- Sou eu - J. respondeu com firmeza.
R. abriu o portão.

As escadas do antigo prédio onde R. morava eram imundas, cobertas por desenhos amarronzados e poeira. J. gostava desses desenhos; achava-os um tanto abstratos e psicodélicos, exatamente da forma que se sentia: Abstrata, partida e sem muita vida. 

R. Abriu a porta. D. estava ao lado dele. Tivera a impressa de que D. crescera alguns centímetros naquele ano, uma vez que estava quase da altura de R. Os cristalinos olhos azuis de R. encararam J. com uma firmeza pouco vista, naqueles tempos onde o vazio o envolvia:

- Você está encharcada.
- Eu sei. - J. respondeu sem dar a mínima.

D., por sua vez, entrou casa a fora e trouxe uma toalha para a amiga. J. agradeceu:

- Que solícito!

D. contestou:

- Agora é você quem me ironiza? Invertemos os papeis?

J. fez uma cara de falso desdém e esboçou um projeto de sorriso. No fundo sabia que aqueles dois rapazes, R. e D., eram as únicas pessoas com quem ela podia contar. Em tempos de tanta tormenta interior, eram eles que estavam ali, compartilhando com ela as turbulências de sua tão curta vida.

J. tinha 17 anos, e por ironia, era a mais velha dos três. Um dia, J. fora cheia de vida e tivera vontade de pular e abraçar o mundo. Seu salto foi tão alto que a queda a destruiu.

R. era alguns meses mais novo que J., mas já tivera mais experiências na vida do que ela. Era um jovem vivido, amargo e sem quaisquer perspectivas. J. era a única pessoa que R. tinha a capacidade de amar verdadeiramente.

D. contava com uma inteligência excepcional, mas também estava perdido. +Problemas que envolviam sua família fizeram-no encontrar um mundo que ele mesmo não gostaria de conhecer, mas que naquele momento, não conseguia mais sair.

-

A varanda do apartamento de R. mais parecia um telhado. Era maltratada, antiga, não muito espaçosa e havia vasos de plantas vazios e pedaços de lajes velhas espalhados por ela, mas era o único lugar da casa onde era possível ver o céu em sua plenitude. Era por isso que J.,D. e R. gostavam de passar horas ali, conversando e observando o céu. Naquela noite o céu não estava estrelado, e os três amigos sequer puderam ficar na varanda; chovia demais.

- Vamos para o meu quarto. - disse R.

O quarto de R. tinha as paredes amareladas e sujas. A luz era fraca e havia muitas figuras pregadas nas paredes. Frank Zappa, Robert Johnsson, Jim Morrison... A maioria dos ídolos de R. já estavam mortos.

Enquanto R. vasculhava o próprio guarda roupa (extremamente bagunçado e caótico) J. procurou o chão para se sentar, encostando as costas na parede e levando os joelhos ao peito. D. sentou-se ao lado dela. Ela pode observar que os aveludados olhos amarelos de D. não eram os mesmos que ela conhecera tempos atrás. Eram olhos vazios, perdidos, tristes. J. se perguntou, mentalmente, se seus olhos também teriam perdido o brilho que um dia possuíram. Sim, provavelmente teriam.

D. manteve os olhos fixos em J. Ambos trocavam olhares tristes, sem palavras, sem expressões, apenas tristeza. D. segurou, suavemente a mão de J. e acariciou-a com leveza. J. achava as mãos de D. as mais bonitas que ela conhecia. Gostava dos dedos dele, do contorno, do tamanho médio da mão e até a sujeirinha no contorno das unhas lhe agradava. J. apertou a mão de D. e levou para ela. Eles eram cúmplices, e ela sabia disso.

R. achou o que tanto procurava: seu violão desafinado. Sentou-se na cama e começou a tocar canções tristes, desafinadas. Tocou Disarm do Smashing Pumpkins, You Know You're Right do Nirvana e, finalmente, Hurt, Nine Inch Nails (que os três preferiam na versão de Johnny Cash). Em um momento, R. parou de tocar e tirou os óculos.

- Está foda. - disse ele.
- Está foda pra todo mundo. - D. complementou.

J. olhou para o teto, suspirou e disse:

- Hoje eu quero apagar.

Os três se entreolharam. Essa era a vontade dos três: apagar. Nunca mais respirar o ar daquele mundo poluído e detriorado em que viviam.

R. saiu do quarto. Voltou com duas caixas de comprimidos. Vários deles, de várias cores e vários tamanhos. Vários frascos, vários nomes... Rivotril, Bromazepan, Lexotan e outros. Não foi preciso que os três jovens se entreolhassem.

O dia seguinte não amanheceu para JDR.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Ao mesmo tempo em que quero ficar sozinha, quero ligar para as pessoas que amo, esguelar para elas permanecerem ao meu lado. Estou farta de presenças, mas tenho fome de presenças.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A noite é escura. Faz frio. Meus ombros estão tensionados e sinto que há um pedaço de chumbo em minhas costas. Meu estômago está embrulhado, queimando. A lâmpada do meu quarto está fraca, me impossibilitando de ler. Tomei 4 gotas de rivotril; poucas, mas na esperança de ter meus músculos relaxados. São 22:45 da noite, e eu espero uma ligação que me deveria ser feita quase 1 hora atrás.
Me sinto assombrada, só. Às vezes tudo que precisamos é de um braço de afeto em torno de nós. Eu, pelo menos, precisava disso agora.
Não quero mais noites como essa.
Odeio fins de ano, eles me remetem à coisas ruins. Reminiscências que englobam meu ser histérico e angustiado.
Apenas afeto. Apenas.
Never mind me 'cause I've been dead
Out of my body, been out of my head
Never mind the songs they hum
Don't wanna sing along with nothin' that I said
 
Never mind the words that came
Out of my mouth when all I could feel was pain
 

sábado, 8 de outubro de 2011

Cansei desse bando de idealizações utópicas.
Idealizações de amor, de amizade, de vida.
Que se explodam!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

sábado, 24 de setembro de 2011

I Feel So - Box Car Racer.

 Sometimes
I wish I was brave
I wish I was stronger
Wish I could feel no pain
Wish I was young
Wish I was shy
I wish I was honest
Wish I was you not I

'Cause I feel so mad
I feel so angry
Feel so calloused
So lost, confused, again
Feel so cheap
So used, unfaithful
Let's start over!
Let's start over!

Sometimes
I wish I was smart
I wish I made cures for
How people are
I wish I had power
I wish I could lead
I wish I could change the world
For you and me

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O espelho

Um dia eu ganhei um lindo espelho para decorar o meu quarto. Ele era bem vivo, claro, limpo... E tinha uma moldura de madeira, que o deixava ainda mais bonito. Eu gostava muito do meu espelho, e de ficar olhando para ele, imóvel e deslumbrante, pregado na parede do meu quarto.

Um dia, decidi convidar algumas pessoas para visitarem o meu quarto. Parece que elas não gostaram do meu espelho. Cada uma que chegou contribuiu para estragá-lo de alguma forma. Uns deram apenas uns arranhões, uns jogaram tomates, e os outros deram murros...até meu espelho quebrar.

Meu espelho, que um dia fora tão belo, ficara tão feio que decidi jogar ele fora. Mas antes, terminei de quebrá-lo sozinha, para ficar mais fácil de me desfazer dele.
 Não tenho mais um esepelho, mas olho para a parede vazia do meu quarto e sinto falta dele.

domingo, 18 de setembro de 2011

A pior lágrima de todas é a da decepção. Ela desce lenta, pesada, sufocante.
Eu confiei em você. Com todo o meu coração

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

The sound of your fucking voice fucking hurts me.
Stop talking and let me die slowly.
"É um horror.
E ainda é a melhor coisa do mundo.
Depende do lado da cama que você acorda."
Às vezes é necessário manter distância.
Muita proximidade ou muito amor pode acabar nos matando.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Uma imagem vale mais do que mil palavras.

Whatever will be, will be.

Tenho que ir dormir, mas meu cansaço é muito mais moral do que físico.
Me sinto extremamente cansada. Estou cansada de depositar tanta energia emocional nas pessoas e elas jogarem tudo por água abaixo. Isso acontece desde as menores proporções até as maiores, e por mais que eu tente controlar, acabo sendo controlada.
Ninguém me deve nada, decerto, mas é desesperador ver que meus sentimentos não valem nada para ninguém, além de que é desgastante ver toda a energia depositada jogada por água abaixo.Tudo o que eu tenho é o meu reflexo no espelho, uma ilusão de ego que é a única coisa que me faz companhia nesse momento.
De que adianta sentir tudo, se não existem sentimentos recíprocos?
As pessoas são tão frias, tão racionais. Como eu ainda não me afoguei nessa piscina gelada, como ainda não morri de hipotermia?
Será que existe espaço para uma alma sensível, sonhadora, intensa e afetiva, nesse mundo onde nada parece real? Nesse mundo onde as pessoas valorizam o supérfulo e deixam para trás quem se importa com elas?
Sinceramente, tenho perdido a esperança.
Whatever will be, will be.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

It's blood.

Olho para as minhas mãos
Vejo manchas de sangue
No meu corpo inteiro
Há manchas de sangue
Estou sangrando
Por fora
Por dentro
Fico confusa
Qual a origem de tanto sangue?
Acho que é angústia.
Essa angústia me faz sangrar.
Mãos, nariz, pernas
Meu corpo inteiro escorre
Em formato de líquido vermelho
Acho que foi uma veia do meu coração
Que de tanto pulsar louca e desesperadamente
Estourou.
E transformeu meu corpo
Em rajadas de sangue
Que pingam
Pingam
Pingam
Pingam, pingam, pingam
Sem parar.

Carolina

Carolina na varanda
Vê o tempo passar
Sozinha, ela observa a rua
Enquanto outras crianças
Brincam de ciranda
Carolina mora na Terra
Mas vive com a cabeça na lua.
-
Escrito em 2001.

domingo, 4 de setembro de 2011

E quando somos obrigados a tirar as máscaras e encarar nosso reflexo real no espelho? Dói, frustra e enforca.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Toda vez que ninguém me amasse
Toda vez eu me sentisse como
agora
Eu queria que Evah aparecesse
E me fizesse companhia..

Roda Viva

 Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu...
 
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
 
A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a roseira prá lá...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
 
A roda da saia mulata
Não quer mais rodar não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou...
A gente toma a iniciativa
Viola na rua a cantar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a viola prá lá...
 
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...
O samba, a viola, a roseira
Que um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou...
 
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...
Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dessa vez não, por favor.

Há três anos eu entro ali, naquela sala de Análise, às Terças-Feira. Há quem se sinta livre o suficiente para chorar durante as sessões. Eu não. Não que eu não me sinta livre ou que não confie o suficiente no Dr. Meu Terapeuta, mas nunca havia sentido vontade de chorar, e nunca chorei. Nunca havia sentido vontade de chorar. Hoje, três anos depois da minha primeira sessão, tive vontade de chorar, mas fiquei engasgada. Acho que o Dr. Meu Terapeuta não percebeu, afinal, sempre fui excelente em engolir o choro na frente das pessoas. Hoje, dia 30 de Agosto de 2011, alternando o olhar entre os olhos castanhos do Dr.Meu Terapeuta e a parede de quadrados de vidro, foi a primeira vez que eu quis desabar em uma montanha de lágrimas naquele consultório.

Quando nos disponibilizamos a fazer qualquer tipo de tratamento psicológico, seja Análise ou qualquer outro, tendemos a tocar em assuntos delicados, por mais que hesitemos. Sentada na poltrona, olhando ou desviando o olhar dos olhos castanhos do Dr.Meu Terapeuta, tratei, durante todo esse tempo, de assuntos extremamente complexos para mim; aqueles com os quais tenho dificuldade de lidar ou de falar para outras pessoas. Aqueles com os quais eu tenho dificuldade de assumir para mim mesma. Sempre contei daquelas memórias grotescas, que me remetem à memórias ainda mais horrorosas, talvez, indizíveis. Essas, eu nunca citei para o Dr.Meu Terapeuta, e nunca citarei para ninguém. São meu lixo escondido, onde só eu posso tocar (ainda assim, quando estiver a fim de machucar as mãos ;} ).

Hoje, como em muitas vezes, voltei ao meu passado. Meu TÃO brilhante (ironicamente dizendo, diga-se de passagem) passado, que faz questão de me puxar pelos cabelos todas as vezes que eu sinto estar desempenhando uma melhor função de ser humano. 

Uma criança brilhante, com o Q.I acima da média, com extrema facilidade em idiomas e artes, se tornou uma adolescente catastrófica, terrível, sem nenhum dom ou graça. Esse processo não aconteceu de uma hora para a outra, foi gradativo. Tenho a impressão de que a cada ano que se passava, e quanto mais próxima à adolescência eu chegava, minha inteligência e/ou graça diminuíam um pouco mais. "O que aconteceu com aquela menininha brilhante, que era ótima em Matemática e em Língua Portuguesa?" Quantas mil vezes ouvi essa pergunta, com diferentes entonações? Era claro para mim que, perante o olhar de pessoas das quais eu NECESSITAVA da aprovação, eu decaía. Decaía cada vez mais.

Chegou um momento que eu decaí por completo. Dons não existiam mais. E aquelas pessoas... Aquelas pessoas não se incomodaram em criar um enorme trauma em uma garotinha de 13 anos de idade. E isso sucedeu. 13, 14, 15, 16, 17 anos... Quantas vezes ouvi (de formas diretas e indiretas) que eu não era capaz? Que eu era pior? Quantas vezes senti a indiferença escorrer pelos lábios ou olhos daqueles adultos que deveriam me orientar na escola, e não fingir que eu não existia?

Assumi para mim mesma esse papel de nada, de lixo. Aprendi a perder. Eu me sentia como um coelho indefeso, que pulava de pedra em pedra para tentar sobreviver à correnteza que corria em baixo de mim. Eu olhava para cima, mas não conseguia enxergar o céu.

O que aconteceu com a menina inteligente, artista, desenvolta, que iria mudar o mundo quando criança? Eu não sei. Ela se perdeu no meio de tantos adultos maldosos, sem a menor destreza para lidar com um ser humano que passa por uma das mais difíceis transições da vida. Ela teve as asinhas cortadas, e apesar de tentar aprender a voar novamente, sente medo, sente que vai cair. Cair e se machucar. Tentar de novo. Cair de novo e se machucar de novo. Parece um ciclo vicioso.

Eu só não quero ser a pior outra vez. Dessa vez não, por favor.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Enfim, ele tomou coragem. Esperava por esse momento havia muito tempo. E se não fosse agora, olhando diretamente nos fundos olhos verdes dela, não seria nunca mais. Antes mesmo de dizer uma só palavra, já ruborizava. Estufou o peito, encheu-no de ar e finalmente tomou coragem para dizer:

- Eu gosto de você. Gosto muito.

Ela não modificou a expressão facial que carregava. Colocou uma madeixa de cabelo para trás da orelha, e sem parar de encará-lo, numa espontaneidade extremamente vazia, ela respondeu, enfática:

- Eu não gosto de ninguém

Às vezes eu tenho vontade de raspar todo o meu cabelo, não deixar nada, nem um fio sequer.
Vestir roupas rasgadas, velhas, sem nenhum significado.
Aí eu andaria pelo mundo... Andaria através das ruas vazias, através das vidas que passam por aí.
Eu seria uma completa anônima.
Não haveria passado para causar dor.
Nenhum presente para machucar.
Nenhum futuro para agonizar.

Talvez eu me sentiria livre.
Talvez eu me libertaria de todas essas jaulas.
Talvez eu poderia me tornar emocionalmente saudável.

Sem histórias para causar dor.
Sem palavras que machucam.
Sem seres que agonizam.



- I'd call you everyday if I could. I miss you so much.

- You follow me every fucking where! Even in my dreams... 



- Our dreams are wishes our heart makes. 


"Estou a salvo neste quarto, a não ser que você tente começar de novo. "
Ser humano é estar fadado a uma eterna solidão. A vida é uma cela solitária de penitenciária.

- Você desenha muitos olhos. Em cada página do seu caderno tem um olho desenhado. Está procurando pelo quê? 


- Eu procuro pelo que procurar.
A quem recorrer?
Para onde correr?
Qual sentido encontrar?
Se o final de tudo,
mais cedo ou mais tarde,
é a indesejada finitude
Que se chama Morte?

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

So long I want to meet you again
Where are you?
Why did you left me here?
Did you forget me?

Please, nothing would make me feel happier
than see you blue hair right now
I still wait for you every night
I still hope you're goingo to remember me

Evah...
You came fast
You left faster.


Tio...

Do nada você veio à minha mente, Tio. Já faz um tempo que eu estou tranquila em relação à sua partida, mas de vez enquando me bate aquela tristeza no coração, aquela saudade suave - porém arrebatora- que eu sei que nada será capaz de curar.

Fico muito triste em saber que não vou poder vê-lo novamente, nem escutar sua risada incrível, e nem os seus deliciosos casos com muita modéstia à parte. Sei que as lembranças positivas são predominantes, mas a grande tristeza da partida sem volta sufoca a minha alma. Não suporto essas partidas. Elas me doem, me consomem. Eu não sei lidar com a morte. Muito menos com a morte de uma das pessoas mais vivas que eu já conheci.

Pois é, Tio... Já se foi quase 1 ano e eu ainda derramo lágrimas ao me lembrar que não me despedi. Não disse adeus. Não pude dizer o quanto eu o amava, e o quanto a sua presença era importante no meu mundo de felicidades. Eu sofro tanto por não ter respondido aquele e-mail, tio... E me dói tanto lembrar da grafia do último e-mail que você mandou ao papai... É uma explosão de sentimentos que parecem querer me afogar a qualquer momento. Eu queria tanto poder dizer um montão de coisas, poder te abraçar mais uma vez... Que saudade eu sinto de abrir a caixa de e-mail de papai e ver o seu nome estampado, sempre com boas notícias...

Qual o sentido disso tudo, Tio? Outro dia você estava ali, cheio de vida, escrevendo artigos na sua máquina de escrever, encantando seus alunos, transformando em uma comédia voluptosa todos os ambientes pelo qual passava. E não vou mais te ver. Nunca mais. E isso me dói tanto... Se ao menos eu pudesse ter me despedido! =//

Eu te amo muito, e tenho muita sorte por tê-lo tido em minha vida.
Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego. Ego.Ego.
-
Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago. Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago. Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.Âmago. Âmago.
 
 
Eu só quero que você saiba
Que estou pensando em você
Agora e sempre mais
Eu só quero que você ouça
A canção que eu fiz pra dizer
Que eu te adoro cada vez mais
E que eu te quero sempre em paz
 
Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem
Aonde for não quero dor
Eu tomo conta de você
Mas te quero livre também
Como o tempo vai e o vento vem
Eu só quero que você caiba
No meu colo
Porque eu te adoro cada vez mais
Eu só quero que você siga
Para onde quiser
Que eu não vou ficar muito atrás
-
Por Marisa Monte.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

...



Talvez eu seja mesmo muito ligada ao passado, como sempre me dizem. Talvez? Não. Eu sou.

Sinto muita dificuldade em deixar ir embora aquilo que mais me tocou, ou o que mais me foi preocioso um dia. É como deixar o pássaro mais bonito ir embora, ainda que exista apenas a ilusão de que ele ainda está ali. Houve um tempo onde tudo era puro, sincero, e pelo menos naqueles momentos, era real.

Passei anos e anos tampando um passado com o outro ou tentando maquiá-los om um presente mal feito. E de que adiantou? No final estou sempre ali novamente, pensando naqueles dias dourados, onde tudo era belo, mágico, eterno. Onde não havia quaisquer indicios de falta de esperança.

Difícil deixar de olhar para cicatrizes quando elas são as mais belas partes do seu reflexo no espelho.
Talvez essa necessidade ridícula não seja por livros do Harry Potter. É necessidade de afeto, mesmo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Bela Dupla

Era uma tarde monótona e cinzenta de Domingo, daquelas capazes de incentivar qualquer suicida a pular da janela mais próxima. Aquele bairro já era vazio por si só e aquele dia parecia o cenário esquecido de uma cidade de interior. Era tudo sem cor, sem brilho, sem movimento, sem barulho. Não havia quase ninguém na rua, com exceção de dois jovenzinhos sentados no meio-fio. De certa forma, aqueles dois semblantes extremamente jovens conseguiam quebrar um pouco do cinza engolidor daquela tarde.

Eram uma menina e um menino. Tinham, aproximadamente, 17 anos. 

A menina tinha cabelos escuros, presos em duas longas tranças que caíam-lhe pelos ombros. Seu rosto claro era coberto por sardas ainda mais claras. Seu olhar ainda era de bebê, tão grande era sua juventude. Vários braceletes e pulseiras coloridas e desuniformes subiam-lhe os pulsos, enquanto ela segurava a ponta do tênis all-star amarelo. Aquela menina era um banho de tinta guache para aquele bairro tão morto.

O menino tinha os cabelos claros, lisos e um pouco compridos. A franja caía-lhe sobre o rosto, tampando parte dos olhos escuros e da sombrancelha bem marcada. Sua pele não era tão clara quanto a da menina, mas ainda assim, era clara. Usava um sobretudo preto, e parecia um personagem recém saído de um livro de Oscar Wilde. Ele transbordava viva, transbordava energia.

Estavam sentados no meio-fio, o menino e a menina, um ao lado do outro. Ela à direita e ele à esquerda. Estavam bem próximos, mas não se tocavam. Ele encarava os olhos dela de maneira profunda, devastadora.

- Gosto dos seus olhos - ela disse para ele.
- Gosta por quê? Não vejo nada demais nele, são escuros e normais. - ele respondeu.
- Olhos não precisam ser azuis para serem bonitos. Gosto dos seus olhos porque eles parecem sempre querer dizer alguma coisa proibida, alguma coisa que não podem dizer.
- Como o quê?

A menina corou, e não respondeu. Continuou mexendo no tênis amarelo.

- Não gosto dessa cidade. - disse o garoto.
- Por quê? - ela começava a voltar à sua cor natural.
- Não sei. Quero ir embora para algum lugar melhor, mais bonito, mais vivo.
- Como onde?
- Não sei. Talvez Berlin. Ou Londres.
- Sempre sonhei morar em Londres. - Ela sorria, e seu sorriso era verdadeiro.

Ele, então, segurou a mão dela:

- Você pretende prestar vestibular para Jornalismo, não é? - ele acariciava a mão dela.
- Prentendo.
- Mas é esse o seu sonho?
- Não, nunca foi. Sempre quis ir embora, sempre quis viver de verdade, e de preferência ao seu lado.

Ele sorriu. Naquele momento, naquele dia, naquela tarde cinza, aquele sorriso era sincero. Pelo menos ali, naquela hora. 

- Nós vamos embora. Vamos morar juntos na Europa. E vamos ficar juntos para sempre.
- Mas como é que vamos viver? - Ela acreditava no que ele dizia e sorria. Seu riso era sincero, espontâneo.
- Não me importa, desde que eu esteja ao seu lado. Levo meu violão e toco nos metrôs para conseguir algum dinheiro, pelo menos no início.
- Eu canto bem, posso cantar! Formamos uma dupla!
- Então faremos uma bela dupla!
- Promete que vamos? - Ela suplicava com o olhar.

Ele segurou o rosto dela com as duas mãos:

- Confia em mim?

Ela concordou com a cabeça e sorriu. Seria capaz de confiar a própria vida a ele.

Estavam decididos que iriam juntos para a Europa, e nada mais os importaria.

A verdade é que nunca foram para a Europa, e nunca ficaram juntos. Pouco tempo depois, nunca mais se viram. 15 anos se passaram e a menina, agora mulher, sentou-se naquele mesmo lugar e deixou uma lágrima cair. Palavras nunca são inocentes. Elas primeiro iludem, depois cortam, ferem, fazem doer e enfim cicatizam. Mas a cicatriz daquela menina-mulher sempre estará ali. Basta ela ela olhar e se lembrar.

Tão Superficial.



Tão superficial que a indiferença que sinto transborda aos meus olhos. Eu sinto falta daquelas relações calorosas nas quais os atritos não eram causados pela diferença individualista de propósitos, e sim pelo convívio (e quem sabe amor) exagerado.
A adolescência é um período onde tudo dura para sempre e os sentimentos são triturados em uma espécie de triturador interno, para que possam se misturar e serem facilmente digeridos. É por isso que o adolescente digere tudo, sente tudo, se permite. São crueis, mas ao mesmo tempo, maleáveis ao amor.
Por mais problemática que tenha sido minha adolescência - e por mais que eu ainda não tenha superado todos os traumas e complexos provenientes dela(e creio que alguns eu não vou superar nunca) -foi nesse período que eu construí meus maiores alicerces, além de serem os únicos que possuo até hoje.
Muitas vezes me pergunto qual é essa de 'crescer', se tornar adulto. Tudo bem, essa era uma pergunta que eu já deveria ter me feito há anos, mas essa dúvida ainda paira sobre mim. Por quê? Pra quê?. As pessoas crescem, mudam, passam a engolir o superficial e é isso? Não há nada além? Não existe mais o intenso, o interno, o imutável?

Eu finjo aceitar. Finjo ser indiferente a esse muro de concreto que são as pessoas. Fico observando-as, de longe, como se não me tocassem, como se fossem de um planeta completamente diferente do meu. Vejo que a maioria delas está ali confraternizando. Confraternizar é necessário, trocar palavras é necessário. Mas os fins dessas confraternizações são indigeríveis ao meu estômago: sexo, parceria de trabalho, ambições, sexo, diversão, bebida, churrasco, dinheiro e mais sexo. É tanta gente ao meu redor, é tanto assunto vazio e oco, que fico desesperada. Penso que em algum momento eu vou sair rodando, gritando, batendo a cabeça na parede e logo perceber que eu não saí do próprio lugar. E fico ali, estática, observando aquilo tudo. Pulsando, suando, e gritando por dentro: POR FAVOR, ALGUÉM ME ESCUTA?

Não nasci para viver sozinha e não quero viver sozinha. E é essa superficialidade de tantas relações que transborda aos meus olhos em formato de lágrimas. Gostaria que tudo voltasse a ser como antes: não perfeito, é claro, mas real. Será impossível criar alicerces depois da idade adulta?
Real.
Intenso.
Vivo.
Um dia. Será?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

"When Something Like A Soul..."

Acho que de todas as funções da tristeza, a menos pior é que ela é capaz de trazer inspiração.
O que é bastante irônico, afinal, a inspiração deveria vir da alma, e não da sensação de falta dela
.


Não tenho muita paciência para escrever algo que faça sentido num momento em que nada faz sentido.
Já passei por tanta coisa nessa vida... Foram tantos altos e baixos (baixos muito mais baixos do que os altos) que eu ainda me surpreendo com o fato de ainda possuir a sensibilidade de uma casca de caqui maduro.
Eu sou frágil. E por mais que a vida tenha cobrado muito de mim desde cedo, acho que não consegui criar uma casca mais consistente para me esconder. Sou completamente dependente daqueles que amo, e perco o eixo do meu próprio equilíbrio quando sinto que a minha comodidade em "possuir" essas pessoas está ameaçada. Eu deveria aprender a gostar da minha própria companhia, da forma que sempre me foi ensinado.
Mas é complicado... Eu transfiro todo o amor que eu deveria sentir por mim mesma, para os outros.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Vinte anos, santos e rosas.

Vinte anos nas costas
Vinte santos na prateleira
Vinte rosas despedaçadas.

Os anos cruéis retornaram
Os santos, milagres não fazem mais
E as tais rosas, coitadas, já estão mortas.

Não há nada a ser feito
As rosas estão negras, secas, pútridas
E os santos, visitas não recebem mais.

Basta um olhar pela janela
E toda angústia que um dia se disse finita
Está presente, possuindo o aquele peito.

De onde resgatar a esperança
Se as rosas, dela preenchida
Se encontram apagadas, falidas?

De onde resgatar o aroma da paz
Se os santos caíram do céu
E não podem mais voltar atrás?

Santos quebrados por dentro
Santos opacos, abandonados
Santos esquecidos, largados.

Rosas que já foram vermelhas
Estão negras, cadavéricas
Estraçalhadas, desmanchadas.

Anos que já tiveram esperança
Estão desiludidos, estagnados
Esperando pela dor, resignados.

domingo, 10 de julho de 2011

Pássaros do mesmo canto



A história do nosso amor
Foi traçada há muito tempo.
Mesmo antes de nos conhecermos
Já existíamos na vida um do outro.
O teu canto me trouxe o teu ardor
E a minha dor te trouxe meu canto.

Foi difícil reconhecer
Que de mim, tu eras parte
Foi difícil reconhecer
Que somos seres pintados na mesma arte
Toda aquela resistência se devia
Ao fato de sabermos que tudo aquilo era grande
Grandeza esperta, intensa, mundana
Grandeza de duas almas, tal que não seria finita.

Passaram-se os anos
Chegou a incerteza
Será que com todas essas mudanças
Permaneceríamos em nossa natureza?
Não me preocupei com qualquer possível afastamento
Dois pássaros do mesmo canto
Sempre se encontram no mesmo ninho
Sempre voam, juntos, ao relento.

Nosso amor não é físico
Muito menos profano
Nossa amor não é paixão que faísca e se apaga
É amor que uma vez consolidado
Nunca mais se acaba.
É o verdadeiro sentimento
De duas almas artistas
Que se encontram imediatamente
Quando se procuram, aflitas.

Evah

 Eu saí correndo. E saí chorando. Naquele lugar lotado de pessoas, pensei que ninguém pudesse me ver, e menos ainda, me enxergar, Saí correndo e chorando, carregando o mundo nos ombros e a alma nos olhos. Eu pensava que as pessoas ao meu redor estavam cegas, mas era eu quem estava.

Eis que ele me aparece. De uma maneira que deveria ser agressiva, se eu julgasse a aparência dele. Mas foi a aparição súbita mais doce que eu poderia sonhar.

Ele usava uma camiseta sem mangas. Era extremamente branco, e tinha os braços cobertos por tatuagens coloridas. Seus cabelos eram azuis, cortados em um moicano chamativo e alegórico. Eu jamais pensei que aquela figura surreal poderia mudar minha vida.

Eu corria, gritava por dentro e chorava. Iria passar sem vê-lo, atpe que em um gesto extremamente delicado, ele barrou minha passagem com o braço. Olhei nos fundos olhos negros dele; olhos que eram bonitos, extremamente expressivos. Ele sorriu suavemente e disse:

-Você está bem?

Engoli o choro. Antes que eu pudesse responder, ele passou o braço pelos meus ombros e disse:

- Tudo ficará bem!
- Quem é você? - perguntei.
- Meu nome é Evah.
- Pensei que Evah fosse um nome feminino.
- Bom saber que sou o primeiro Evah masculino que você conhece!
- Eu ainda não te conheço.
- Mas vai conhecer!

E caminhei com Evah no meio de todas aquelas pessoas. E, definitivamente, ele mudou a minha vida. Para sempre. Antes que eu acordasse de um sonho lindo.

sábado, 9 de julho de 2011

20 candles.


"Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração..."


Há 6 anos eu completava 14 anos, ganhava um bolo decorado de purpurina feito pelas minhas amigas, juntamente com balões cor-de-rosa a serem estourados. Há 5 anos, eu fazia 15 anos, e tinha praticamente todas as pessoas com as quais eu me importava ao meu lado, ainda vivas no corpo terrestre. Há 4 anos, eu fazia 16 anos, e já aprendia a lidar com as perdas, mudanças e voltas que o mundo - melhor dizendo, a vida - insistem em nos providenciar. 

Hoje eu completo 20 anos. Duas décadas são carregadas nas minhas costas a partir de agora. Pouco para quem observa, e talvez muito para quem as viveu (e vive). 
Há 2 anos eu completava a maioridade e achava que minha vida ia mudar. Há 8 eu entrava (teroicamente) na adolescência e há 19, eu completava meu primeiro ano de vida.

Datas, números. Números e datas. O que representam eles, afinal? No máximo, a contagem medíocre do tempo, para que o ser humano não se perca em seus próprios devaneios. Números e datas continuam com o mesmo peso de muitos anos para mim: nenhum. Não é possível dizer quem sou, o que já passei, o que penso ou o que já vivi através da idade que tenho. O marco crucial de tudo para mim é minha mente, onde está a minha memória, onde eu ainda guardo todas as lembranças que me tornam, hoje, quem eu sou, e quem me tornarão, no futuro, quem eu serei. 



Na minha mente eu guardo meus momentos de grito oculto sufocado pelas madrugadas afora. É também onde os melhores abraços, feitos e frases estão devidamente guardados. Os momentos onde eu pensei poder morrer de alegria ou de tristeza. Lá estão todas as vezes que caí e acreditei que ficaria estagnada no chão para sempre. Os momentos em que me tornei invencível para sempre, pelo menos até o amanhecer. Os amores eternos que duraram até a primavera. As amizades que foram eternas enquanto duraram. A certeza de que tudo estava bem, até a próxima decaída que não dependia de mim. 


Tudo isso ficará aqui. Independente do quando a roda viva insista em rodar, enquanto o tempo ainda insista em passar num instante.

Próximos 20, eu vos espero.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Verão frio, âmago vazio.



Era uma tarde cinza no Bloomsbury, e apesar de ser verão, fazia frio. Não aquele frio tipicamente europeu, mas ventava gelado, e até mesmo os Londrinos naturais reclamavam daquela surpresa inesperada, fora da estação correta.
Eu não sentia tanto frio, estava acostumada a sentí-lo. Naquela época, eu era capaz de suportar muito mais do que posso nos dias de hoje. E eu era apenas uma menina de 16 anos, uma jovem latina viajando pela Inglaterra, realizando um sonho de criança. Extremamente branca, loira, de sobrancelhas claras; poderia (facilmente)  me passar por inglesa. Mas eu não me passava por inglesa; eram os ingleses que se passavam por mim - dentro de mim - aqueles ingleses tão importantes na minha vida, dos quais eu jamais me esquecerei.
Olhei pela janela fosca do quarto em que eu estava. Apesar de ser uma região central, da janela do meu quarto eu podia ver apenas prédios intermináveis, baixos, porém grandes em largura. A vista era de um tom laranja fosco. Talvez marrom. Era tudo fosco, meio cinza, meio sem muita coloração. E havia um silêncio quase sufocante; Londres nunca me doeu tanto no peito.
Quarto vazio. Rua vazia. Coração prestes a ficar vazio. Aquele quarto extremamente velho, minúsculo, me parecia enorme. Aquelas paredes descascadas pareciam querer me engolir a qualquer momento. Paredes amarelas (foscas), que deveriam estar da cor do meu semblante triste.
Olhei para a velha cama encostada na parede(quantas pessoas que já haviam morrido,  teriam dormido na mesma cama que eu?). Lá estava ele, me esperando. Parado, intacto. Apenas um livro, nada além de um livro. Não era muito grosso, mas o que estava dentro dele, terminaria de marcar minha vida para sempre, com um corte fundo, bem no âmago do peito. Deixei uma lágrima escorrer dos meus olhos frios. Depois que eu terminasse de ler aquele livro, não teria mais a quem recorrer. Teria que enterrar meus amigos para sempre, meus amados ingleses. Aqueles que me levaram para a Inglaterra, aqueles que interferiram muito no que sou hoje, e em TUDO que eu era naquela época. Seus nomes eram susurrados no meu ouvido.. e eu tinha medo de perdê-los. Cada vez mais.
Ronald. Fred. Luna. Remus. Sirius. Severus. Hermione. Lilly. James. Draco. Tonks. Albus.. Harry.
Suspirei. Seria aquele o fim, de fato?
Sim, seria. Se eu pudesse voltar atrás e conversar com aquela jovem garota, solitária em um minúsculo quarto velho no Bloomsburry, eu diria a ela: sim, minha jovem. É o fim dessa era. Sinto muito.
Sinto muito. E sinto até hoje.
Depois daqueles dias de frio- em pleno verão Londrino -nunca mais fui capaz de tocar aquele livro. Algo em mim fora rasgado e costurado (mal e porcamente) para sempre. Meus amigos se foram. Hoje, são vivos apenas na minha memória.


Salut.

Escrever, para mim, é o mesmo que respirar.
Algumas vezes me faltam palavras, da mesma forma que não é sempre que tenho o ar.
Estarei aqui vez ou outra, talvez mais, para colocar em letras o ar que me faltar, ou não.