quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Archangel G.

Você foi mais um. Mais um dos muitos que nunca que tive, que nunca sequer cheguei a encostar as mãos propriamente. Você passou como um furacão; rápido, porém, capaz de deixar seus estragos. Mas eu consegui limpar a bagunça que você fez.

Guardei sua foto de criança - você estava vestido de palhacinho - em um lugar encantado, e sempre a terei. De todos eles, você talvez seja o que eu menos me lembre, mas em dias como hoje, percebo que ainda há uma parte sua vivendo dentro de mim. Após tantos anos, ainda posso perceber seus vestígios de anjo caído em algumas partes da minha atmosfera.

Um anjo caído. Haveria melhor definição para você? Provavelmente não. Você condiz quase perfeitamente com seu título de arcanjo. Um moleque. Um sorriso que será sempre inesquecível, mas olhos que nunca mais vi iguais. Olhos escuros, profundos, marcados, atrevidos, fortes, grandes, belos, delineados... Belo trio, seus olhos "inverbalizáveis" e seu sorriso torto quase sempre debochado. O que eu vi em você? Até hoje não consigo compreender muito bem. 

Como costumava acontecer com meus amores do passado, você jamais passava despercebido. Todos sabiam quem era o arcanjo de cabelos castanhos escuros, pele morena clara e olhos absurdamente abusivos. Um menino, somente. Um menino leviano, traquinas, sem quaisquer moralismos ou vocação para obrigações. Talvez eu não tenha sabido como chegar mais perto. Eu tentei, dentro dos meus limites, mas meu medo de parecer invasiva me impediu de ir mais longe. Não fui mais longe, mas consegui chegar a lugares que me renderam deliciosas noites de fantasia ao som de "Como eu Quero", do Kid Abelha. Quanta fantasia, quanta vontade de estar junto de você, quanto desejo de descobrir o que havia por trás do anjo caído.Hoje eu sei; havia apenas um menino. E eu era uma menina, querendo descobrir quem era esse menino. 

Jamais pensei que pudesse escrever para você novamente. De todos os problemas que eu tento enterrar, você é um dos que menos precisam de terra, tão tranquila é a relação que estabeleço com a sua simbologia. Mas estou aqui novamente. Lembro da última vez que te vi, final do ano de 2009. Fiquei surpresa com a sua receptividade e simpatia... Eu não esperava que você, no auge da sua divindade angelical, fosse reagir assim diante de mim, uma reles mortal. E fiquei feliz. É uma boa última lembrança. 

Somos seres completamente distantes.Nunca consegui te puxar para mim da maneira que eu realmente gostaria quando tive a oportunidade. Mas de alguma forma, você me marcou. Me marcou como poucos marcaram, e sempre me lembrarei dos dias em que o sol não apareceu, mas que depois brilhou com mais força ainda. Você beijou a minha mão várias vezes. Tenho, para sempre, incrustado na minha pele o beijo de um arcanjo? Na pele, não sei. Mas na alma, com toda certeza. 


E pelo espaço de um instante... 


Eternal little Bee. 
Eternal Archangel G. 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Intenso, porém suave.

Chegou sorrateiramente, sem bater à porta
Mas ela já estava aberta há muito tempo
O som de sua presença já fora ouvido
Muito antes de que chegasse oficialmente
Entrou de uma forma delicada
Porém, impactante
Doce, mas desconcertante.

O tempo se encarrega de trazer
Tudo aquilo que possuímos de verdade
Nunca existiu a dúvida de que tudo existiria em breve
Embora, por um certo tempo,
tal  certeza tenha permanecido adormecida
Mas nunca foi desafio acordar
Aqueles que têm sono leve

Intenso, porém suave
Ferve como tudo que nasce do fogo
Dói o estômago como tudo o que desce quente
Mas é, também, suave
Acalma a alma como tudo o que é pleno
Mantém uma identificação espiritual
Torna um coração selvagem, sereno.

Olhos de coruja
Pertencem a quem roubá-los primeiro
Tão puros olhos, tão atentos olhos
Acessíveis de uma forma que parece irreal
Olhos da mais misteriosa ave
Teu olhar é Intenso.
Porém, suave.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Sal

Quanto tempo leva até superarmos um grande amor? 

Liz se fazia essa pergunta mentalmente, enquanto penteava os cabelos loiros e olhava seu reflexo no espelho. Ela não era mais a mesma, embora sua imagem não houvesse mudado tanto. Uma lágrima pesada caiu de seus olhos, borrando-lhe a face e pingando na cabeceira de madeira. Ela sabia exatamente a resposta para essa pergunta. 

-

Liz passeava com sua amiga em um grande evento que acontecia em sua cidade. Muitas pessoas estavam nesse evento, possivelmente relacionado à música. Por mais introspectiva que fosse, Liz gostava de sair de casa de vez em quando, principalmente se fosse acompanhada de seus tão amados amigos. Estava muitíssimo bela; o tempo havia passado até mesmo para ela, mas ainda era jovem, muito jovem, quase uma menina. Os cabelos lisos e escovados caíam-lhe sobre as costas, os olhos pintados de sombra preta combinavam com a blusa, também preta. Ela estava tranquila naquele ambiente, até que, inesperadamente, um clarão roubou todas as memórias do que havia acontecido antes. Ele estava ali. Sal... O indecifrável Sal, aquele que Liz amou profundamente durante tanto tempo, e que talvez continuasse amando.

Ela havia tentando tantas vezes encontrá-lo, mas nenhuma vez obteve qualquer resposta da parte dele. Sal havia sumido por anos da vida de Liz por livre e espontânea vontade. Mas não havia tempo o suficiente para fazê-la se esquecer de Sal. E ela o viu. E o brilho que ele continuava a transmitir quase ofuscou os olhos da garota. 

Liz não se lembrava de como chegou até Sal, de como começou a falar com ele, como como o abordou. Quando ela se viu, já estava deitada no chão de um local mais isolado do mesmo evento, envolta nos braços do antigo amor, acariciando seus cabelos lisos e úmidos. Ela jamais se esqueceria da textura daqueles cabelos, do cheiro maravilhoso que exalavam. Sal correspondia os carinhos, e abraçava Liz de uma forma que parecia querer compensar todo o tempo em que estivera ausente. 

Ela olhou fundo nos olhos amarelados de Sal. Estavam com os rostos quase encostados, mais próximos do que Liz pudera pensar que estariam um dia, novamente. 

- Por quê? - Ela perguntou.

- Eu vou te contar. - Ele respondeu.

Mais um borrão. A presença de Sal causava vertigens em Liz. Ela ainda o amava profundamente, e não sabia o que fazer para lidar com tanto sentimento. 

Quando pôde se lembrar, Liz estava de mãos dadas com Sal, saindo do evento. Passava por muitos conhecidos antigos, que olhavam para eles e cochichavam "Até hoje?". Por algum motivo isso fazia a garota feliz. Até hoje. Que bom que era "até hoje". Era um momento histórico para ela. Liz e Sal. De mãos dadas. Mais uma vez. 

Outro borrão. 

Liz e Sal saíram do evento e conversam sentados em o que parecia ser uma quadra. Era nublado, e a quadra estava depredada e úmida. Ele segurava as mãos dela. 

- Por quê? - Ela perguntou. 

- A única "neta" que meu avô já aceitou foi você. Para minha mãe também, você sempre será a única mulher da família, além dela e minha irmã. - O olhar de Sal estava perdido. 

Liz o abraçou forte, e deixou que lágrimas caíssem dos olhos. Ela não podia deixá-lo ir embora mais uma vez. Nunca mais. 

- Você foi a melhor amiga que eu tive. Você foi a pessoa que mais amei em toda a minha vida. Eu nunca vou amar ninguém da forma que amei você, disso você pode ter certeza absoluta. Mas eu nunca consegui lidar com tanto amor. É tudo tão forte, que decidi me afastar. 

Um filme passou pela cabeça de Liz. Sal também fora o melhor amigo que já tivera. Se lembrou de todos os momentos que passaram juntos em um passado não tão distante, das palavras, do sentimento, da energia forte que os envolvia..e lembrou de como os braços de Sal a aqueciam e de como era feliz apenas por estar perto dele. 

- Depois de tanto tempo, você ainda me ama? - Liz perguntou.

- Eu te amarei para sempre, e você devia saber disso. - Sal respondeu, com certa tristeza.

Liz o abraçou mais uma vez. Durante todo esse tempo, Sal nunca havia deixado de amá-la. Ela não se importava com nada mais. Não se importava nem com a ausência de Sal. Saber que ele a amava lhe dava forças para seguir qualquer caminho, e saber que seus corações estavam unidos independente do que acontecesse, independente da presença física de ambos, era suficiente para ela. Liz estava plena. 


Liz abriu os olhos. Não passava de mais um dos muitos sonhos que tinha com Sal. Ele ainda estava ausente, e não havia dito nada a respeito de amá-la. Mais uma vez, ela estava sozinha, imersa a pensamentos e saudades de Sal. Tudo não passara de um sonho. 

Liz ainda prefere acreditar no que o Sal do "sonho" havia dito para ela. Talvez ele ainda a amasse, e só estivesse longe por não conseguir segurar a barra de tanto amor. É uma verdade menos dolorosa do que acreditar no fato de que ele simplesmente a esqueceu, e atualmente leva sua vida como se ela não existisse. Com essa verdade ela não pode conviver. 

Quanto tempo leva até superarmos um grande amor? 

Ela sabia exatamente a resposta para essa pergunta. 

domingo, 4 de novembro de 2012

Dear B,

Se eu fosse mandar uma carta nesse exato momento, com certeza seria para você. Faz pouquíssimo tempo em que nos conhecemos, mas nesse momento, você é minha única válvula de escape e ponto de equilíbrio dentro dessa rotina movediça cheia de oscilações mentais na qual vivo - e sou obrigada a viver.

B, eu não sei mais classificar anos. Tenho saudade da época em que eu podia dizer que ano tal havia sido de tal jeito. Isso não acontece mais. 2012 foi - e está sendo - uma total e indefinível bagunça. Muitas coisas nas quais eu acreditava foram por água abaixo em um período curtíssimo de tempo, e eu estive por diversas vezes no meio de uma faca de dois gumes. Tantas situações com tantos lados, com tantas questões de escolha, tanto sentimento ruim por escolher um sentimento e não outro... Talvez simplesmente pelo fato de eu não conseguir escolher de verdade e ser tudo muito maior do que eu.

Uma montanha russa, esse tal de 2012 eu diria. Tantas coisas boas, momentos inesquecíveis e pessoas tão marcantes (assim como você) ... mas ao mesmo tempo, tantas coisas ruins, momentos que eu gostaria de apagar, situações tão desagradáveis, tantas desconstruções mentais. Eu não sei o que fazer, o que pensar, a qual conclusão chegar.

Nesse exato momento eu me sinto brutalmente despida, invadida. Sinto que violaram minhas próprias leis sem que eu mesma percebesse, e ao mesmo tempo, sinto culpa por pensar e sentir uma série de coisas. Eu me perdoo, apesar de tudo, pois se havia algo que eu valorizava mais do que qualquer coisa, era esse espaço que foi tirado de mim antes que eu pudesse protegê-lo. Eu errei, eu não soube proteger. Minha ingenuidade falou mais alto do que o meu instinto de proteção.

É impressionante, B, como um único acontecimento pode acabar com todo o carinho que tínhamos por alguém, ou alguma construção que nos levou tempo para realizar. Parece que está tudo podre, e o brilho que tinha, acabou. O encanto foi desfeito. E só me resta uma tristeza enorme no coração.