terça-feira, 12 de julho de 2011

Vinte anos, santos e rosas.

Vinte anos nas costas
Vinte santos na prateleira
Vinte rosas despedaçadas.

Os anos cruéis retornaram
Os santos, milagres não fazem mais
E as tais rosas, coitadas, já estão mortas.

Não há nada a ser feito
As rosas estão negras, secas, pútridas
E os santos, visitas não recebem mais.

Basta um olhar pela janela
E toda angústia que um dia se disse finita
Está presente, possuindo o aquele peito.

De onde resgatar a esperança
Se as rosas, dela preenchida
Se encontram apagadas, falidas?

De onde resgatar o aroma da paz
Se os santos caíram do céu
E não podem mais voltar atrás?

Santos quebrados por dentro
Santos opacos, abandonados
Santos esquecidos, largados.

Rosas que já foram vermelhas
Estão negras, cadavéricas
Estraçalhadas, desmanchadas.

Anos que já tiveram esperança
Estão desiludidos, estagnados
Esperando pela dor, resignados.

domingo, 10 de julho de 2011

Pássaros do mesmo canto



A história do nosso amor
Foi traçada há muito tempo.
Mesmo antes de nos conhecermos
Já existíamos na vida um do outro.
O teu canto me trouxe o teu ardor
E a minha dor te trouxe meu canto.

Foi difícil reconhecer
Que de mim, tu eras parte
Foi difícil reconhecer
Que somos seres pintados na mesma arte
Toda aquela resistência se devia
Ao fato de sabermos que tudo aquilo era grande
Grandeza esperta, intensa, mundana
Grandeza de duas almas, tal que não seria finita.

Passaram-se os anos
Chegou a incerteza
Será que com todas essas mudanças
Permaneceríamos em nossa natureza?
Não me preocupei com qualquer possível afastamento
Dois pássaros do mesmo canto
Sempre se encontram no mesmo ninho
Sempre voam, juntos, ao relento.

Nosso amor não é físico
Muito menos profano
Nossa amor não é paixão que faísca e se apaga
É amor que uma vez consolidado
Nunca mais se acaba.
É o verdadeiro sentimento
De duas almas artistas
Que se encontram imediatamente
Quando se procuram, aflitas.

Evah

 Eu saí correndo. E saí chorando. Naquele lugar lotado de pessoas, pensei que ninguém pudesse me ver, e menos ainda, me enxergar, Saí correndo e chorando, carregando o mundo nos ombros e a alma nos olhos. Eu pensava que as pessoas ao meu redor estavam cegas, mas era eu quem estava.

Eis que ele me aparece. De uma maneira que deveria ser agressiva, se eu julgasse a aparência dele. Mas foi a aparição súbita mais doce que eu poderia sonhar.

Ele usava uma camiseta sem mangas. Era extremamente branco, e tinha os braços cobertos por tatuagens coloridas. Seus cabelos eram azuis, cortados em um moicano chamativo e alegórico. Eu jamais pensei que aquela figura surreal poderia mudar minha vida.

Eu corria, gritava por dentro e chorava. Iria passar sem vê-lo, atpe que em um gesto extremamente delicado, ele barrou minha passagem com o braço. Olhei nos fundos olhos negros dele; olhos que eram bonitos, extremamente expressivos. Ele sorriu suavemente e disse:

-Você está bem?

Engoli o choro. Antes que eu pudesse responder, ele passou o braço pelos meus ombros e disse:

- Tudo ficará bem!
- Quem é você? - perguntei.
- Meu nome é Evah.
- Pensei que Evah fosse um nome feminino.
- Bom saber que sou o primeiro Evah masculino que você conhece!
- Eu ainda não te conheço.
- Mas vai conhecer!

E caminhei com Evah no meio de todas aquelas pessoas. E, definitivamente, ele mudou a minha vida. Para sempre. Antes que eu acordasse de um sonho lindo.

sábado, 9 de julho de 2011

20 candles.


"Roda mundo, roda gigante
Roda moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração..."


Há 6 anos eu completava 14 anos, ganhava um bolo decorado de purpurina feito pelas minhas amigas, juntamente com balões cor-de-rosa a serem estourados. Há 5 anos, eu fazia 15 anos, e tinha praticamente todas as pessoas com as quais eu me importava ao meu lado, ainda vivas no corpo terrestre. Há 4 anos, eu fazia 16 anos, e já aprendia a lidar com as perdas, mudanças e voltas que o mundo - melhor dizendo, a vida - insistem em nos providenciar. 

Hoje eu completo 20 anos. Duas décadas são carregadas nas minhas costas a partir de agora. Pouco para quem observa, e talvez muito para quem as viveu (e vive). 
Há 2 anos eu completava a maioridade e achava que minha vida ia mudar. Há 8 eu entrava (teroicamente) na adolescência e há 19, eu completava meu primeiro ano de vida.

Datas, números. Números e datas. O que representam eles, afinal? No máximo, a contagem medíocre do tempo, para que o ser humano não se perca em seus próprios devaneios. Números e datas continuam com o mesmo peso de muitos anos para mim: nenhum. Não é possível dizer quem sou, o que já passei, o que penso ou o que já vivi através da idade que tenho. O marco crucial de tudo para mim é minha mente, onde está a minha memória, onde eu ainda guardo todas as lembranças que me tornam, hoje, quem eu sou, e quem me tornarão, no futuro, quem eu serei. 



Na minha mente eu guardo meus momentos de grito oculto sufocado pelas madrugadas afora. É também onde os melhores abraços, feitos e frases estão devidamente guardados. Os momentos onde eu pensei poder morrer de alegria ou de tristeza. Lá estão todas as vezes que caí e acreditei que ficaria estagnada no chão para sempre. Os momentos em que me tornei invencível para sempre, pelo menos até o amanhecer. Os amores eternos que duraram até a primavera. As amizades que foram eternas enquanto duraram. A certeza de que tudo estava bem, até a próxima decaída que não dependia de mim. 


Tudo isso ficará aqui. Independente do quando a roda viva insista em rodar, enquanto o tempo ainda insista em passar num instante.

Próximos 20, eu vos espero.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Verão frio, âmago vazio.



Era uma tarde cinza no Bloomsbury, e apesar de ser verão, fazia frio. Não aquele frio tipicamente europeu, mas ventava gelado, e até mesmo os Londrinos naturais reclamavam daquela surpresa inesperada, fora da estação correta.
Eu não sentia tanto frio, estava acostumada a sentí-lo. Naquela época, eu era capaz de suportar muito mais do que posso nos dias de hoje. E eu era apenas uma menina de 16 anos, uma jovem latina viajando pela Inglaterra, realizando um sonho de criança. Extremamente branca, loira, de sobrancelhas claras; poderia (facilmente)  me passar por inglesa. Mas eu não me passava por inglesa; eram os ingleses que se passavam por mim - dentro de mim - aqueles ingleses tão importantes na minha vida, dos quais eu jamais me esquecerei.
Olhei pela janela fosca do quarto em que eu estava. Apesar de ser uma região central, da janela do meu quarto eu podia ver apenas prédios intermináveis, baixos, porém grandes em largura. A vista era de um tom laranja fosco. Talvez marrom. Era tudo fosco, meio cinza, meio sem muita coloração. E havia um silêncio quase sufocante; Londres nunca me doeu tanto no peito.
Quarto vazio. Rua vazia. Coração prestes a ficar vazio. Aquele quarto extremamente velho, minúsculo, me parecia enorme. Aquelas paredes descascadas pareciam querer me engolir a qualquer momento. Paredes amarelas (foscas), que deveriam estar da cor do meu semblante triste.
Olhei para a velha cama encostada na parede(quantas pessoas que já haviam morrido,  teriam dormido na mesma cama que eu?). Lá estava ele, me esperando. Parado, intacto. Apenas um livro, nada além de um livro. Não era muito grosso, mas o que estava dentro dele, terminaria de marcar minha vida para sempre, com um corte fundo, bem no âmago do peito. Deixei uma lágrima escorrer dos meus olhos frios. Depois que eu terminasse de ler aquele livro, não teria mais a quem recorrer. Teria que enterrar meus amigos para sempre, meus amados ingleses. Aqueles que me levaram para a Inglaterra, aqueles que interferiram muito no que sou hoje, e em TUDO que eu era naquela época. Seus nomes eram susurrados no meu ouvido.. e eu tinha medo de perdê-los. Cada vez mais.
Ronald. Fred. Luna. Remus. Sirius. Severus. Hermione. Lilly. James. Draco. Tonks. Albus.. Harry.
Suspirei. Seria aquele o fim, de fato?
Sim, seria. Se eu pudesse voltar atrás e conversar com aquela jovem garota, solitária em um minúsculo quarto velho no Bloomsburry, eu diria a ela: sim, minha jovem. É o fim dessa era. Sinto muito.
Sinto muito. E sinto até hoje.
Depois daqueles dias de frio- em pleno verão Londrino -nunca mais fui capaz de tocar aquele livro. Algo em mim fora rasgado e costurado (mal e porcamente) para sempre. Meus amigos se foram. Hoje, são vivos apenas na minha memória.


Salut.

Escrever, para mim, é o mesmo que respirar.
Algumas vezes me faltam palavras, da mesma forma que não é sempre que tenho o ar.
Estarei aqui vez ou outra, talvez mais, para colocar em letras o ar que me faltar, ou não.