segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ao companheiro de guerra...


Eu não queria que tudo acabasse assim. Na verdade, eu não queria que acabasse. Eu carreguei você como um troféu durante anos, e foi isso o que você representou para mim durante todo esse tempo: um prêmio de honra. 
Você supriu muitos dos meus vazios durante o tempo que conviveu assiduamente comigo, e eu sou grata pela companhia que me foi oferecida por você e pela amizade também, apesar de só eu considerá-la em sua plenitude. 

Eu me pergunto, por que isso tudo, depois de tanto?! Vale mais o superficial do que o que passamos juntos? Você foi meu herói de guerra, meu companheiro de guerra, a primeira pessoa que eu pensava ao acordar, porque sabia que o dia que viria seria uma luta, mas que ao menos você estaria ao meu lado, com seu jeito incomum, irônico, sua presença épica e irrevogavelmente perceptível. 

Tínhamos um pacto. Para mim, você era um irmão de sangue, farinha do mesmo saco que eu. Como eu lhe disse uma vez, éramos a mesma maçã, mas você era a parte mais podre dela. Você riu. Obviamente eu sempre soube que você nunca prestou, e eu sabia, lá no fundo eu sabia, que algum dia aquilo tudo iria dar merda. E deu. Demorou, mas deu. 

Passada a adolescência, os problemas escolares que pareciam não ter fim, você me aparece com questões tão juvenis como éramos quando tudo aconteceu. Talvez os problemas que tínhamos aos 16 e 17 anos eram infinitamente maiores do que os que temos hoje. Éramos dois garotos perdidos, fora dos padrões, não compreendíamos ninguém e ninguém nos compreendia. Pensávamos que iríamos mudar o mundo com a nossa rebeldia e autenticidade. Acreditávamos ser melhores que a massa ao nosso redor por ter um gosto musical "mais apurado", que rodeava os clássicos do rock n' roll e por passarmos noites acordados, perturbados pela existência, e ainda assim permanecíamos de pé nas segundas-feiras frias daqueles corredores sem vida.  

E eu pensava que depois disso, depois de tudo o que aconteceu comigo e contigo, depois de tudo que ainda aconteceu na sua vida, você tinha se tornado um homem, mas eu me enganei. Você esconde um menino imaturo nesses olhos azuis de poeta amargo e boêmio. 

O que mais você quer da vida?! Alguém para te amar?! Eu te amo, ela te ama, ele te ama, eles te amam. Você é amado. Você é notável, você é inteligente, você calou a boca de todos quando passou na Universidade Federal. Não a minha, pois eu sempre acreditei em você. Mas o que aconteceu?! Onde o fio da meada foi perdido? Eu não consigo encontrar essa parte do caminho e nem entender. 

Você pode sumir eternamente, nunca mais falar comigo pelos seus motivos banais, pode acabar com a sua vida afogando suas mágoas e angústias em fossas infinitas, mas eu sempre me lembrarei de você. Você é uma parte de mim, uma grande parte de mim. Meu velho companheiro de guerra, aquele que estava ao meu lado durante aqueles dias insólitos, naquelas madrugadas frias, sempre me contemplando com uma palavra de desânimo, que querendo ou não, era nossa realidade. Durante todos esses anos, eu pude te sentir de fato, e nunca abaixarei a bandeira branca para você, problemático, doentio, complicado, rebelde, incomum, perturbado e INESQUECÍVEL herói de guerra. 

Um comentário:

  1. Maria Luisa, ou simpesmente Malu, sabe que consigo identificar cada frase que você escreveu porque acredito que eu tenha acompanhado muito bem um bom pedaço da história e até mesmo ouso dizer que fiz parte dela em raras ocasiões.
    Tudo que aconteceu realmente não foi a coisa mais inesperada, mas foi suficiente para abalar quem apostava em um final de novelas. Só posso dzer que tudo isso, apesar de não parecer, me incomoda porque grande parte do que eu sei sobre a vida foi vocês dois que me ensinaram, de um nerd bobo e ingenuo, amadureci muito com vocês, andei a passos largos em um ano que achei que não moveria um pedaço, consegui me valorizar porque enquanto todos só olhavam a minha sátira, vocês dois, por motivos que até hoje não entendo, apostaram em mim; até meu gosto musical melhorou na presença de vocês.
    Apesar de hoje sermos todos adultos com suas vidas independentes e de nossos anos passados não terem sido aquilo que imaginávamos, eu devo um grande obrigado a vocês dois, mesmo que isso pareça irrelevante para um.

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