sexta-feira, 8 de julho de 2011

Verão frio, âmago vazio.



Era uma tarde cinza no Bloomsbury, e apesar de ser verão, fazia frio. Não aquele frio tipicamente europeu, mas ventava gelado, e até mesmo os Londrinos naturais reclamavam daquela surpresa inesperada, fora da estação correta.
Eu não sentia tanto frio, estava acostumada a sentí-lo. Naquela época, eu era capaz de suportar muito mais do que posso nos dias de hoje. E eu era apenas uma menina de 16 anos, uma jovem latina viajando pela Inglaterra, realizando um sonho de criança. Extremamente branca, loira, de sobrancelhas claras; poderia (facilmente)  me passar por inglesa. Mas eu não me passava por inglesa; eram os ingleses que se passavam por mim - dentro de mim - aqueles ingleses tão importantes na minha vida, dos quais eu jamais me esquecerei.
Olhei pela janela fosca do quarto em que eu estava. Apesar de ser uma região central, da janela do meu quarto eu podia ver apenas prédios intermináveis, baixos, porém grandes em largura. A vista era de um tom laranja fosco. Talvez marrom. Era tudo fosco, meio cinza, meio sem muita coloração. E havia um silêncio quase sufocante; Londres nunca me doeu tanto no peito.
Quarto vazio. Rua vazia. Coração prestes a ficar vazio. Aquele quarto extremamente velho, minúsculo, me parecia enorme. Aquelas paredes descascadas pareciam querer me engolir a qualquer momento. Paredes amarelas (foscas), que deveriam estar da cor do meu semblante triste.
Olhei para a velha cama encostada na parede(quantas pessoas que já haviam morrido,  teriam dormido na mesma cama que eu?). Lá estava ele, me esperando. Parado, intacto. Apenas um livro, nada além de um livro. Não era muito grosso, mas o que estava dentro dele, terminaria de marcar minha vida para sempre, com um corte fundo, bem no âmago do peito. Deixei uma lágrima escorrer dos meus olhos frios. Depois que eu terminasse de ler aquele livro, não teria mais a quem recorrer. Teria que enterrar meus amigos para sempre, meus amados ingleses. Aqueles que me levaram para a Inglaterra, aqueles que interferiram muito no que sou hoje, e em TUDO que eu era naquela época. Seus nomes eram susurrados no meu ouvido.. e eu tinha medo de perdê-los. Cada vez mais.
Ronald. Fred. Luna. Remus. Sirius. Severus. Hermione. Lilly. James. Draco. Tonks. Albus.. Harry.
Suspirei. Seria aquele o fim, de fato?
Sim, seria. Se eu pudesse voltar atrás e conversar com aquela jovem garota, solitária em um minúsculo quarto velho no Bloomsburry, eu diria a ela: sim, minha jovem. É o fim dessa era. Sinto muito.
Sinto muito. E sinto até hoje.
Depois daqueles dias de frio- em pleno verão Londrino -nunca mais fui capaz de tocar aquele livro. Algo em mim fora rasgado e costurado (mal e porcamente) para sempre. Meus amigos se foram. Hoje, são vivos apenas na minha memória.


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