sexta-feira, 13 de abril de 2012

A noite chega e é inevitável. Aquela garota que conseguiu se manter intacta por dias, se vê quebrada novamente, como um pedaço de vidro velho. Os cabelos presos, bagunçados e sem vida; os olhos mareados de lágrimas, um corpo estranho habitando uma peça de pijama velho, blusa não combinando com o short; o retrato do fracasso juvenil.

Será tão difícil manter uma linearidade? Por que, por que existe tanto peso naqueles que a rodeiam, porque é tão difícil dessalinizar o peso das relações, manter uma mente livre, limpa e saudável? Por que tanta dependência de afeto, por que tantos gritos internos, eternamente sufocados em uma cara fechada e irredutível?

Finais de noite costumam ser sempre iguais para aquela garota, desde que era bem jovenzinha. Ela costuma pegar um bloco de papel, uma caneta, e começa a rabiscar desenhos sem significados e palavras soltas, que quando se unem, fazem sentido apenas para ela. Aliás, para quem mais faria sentido aquilo que só existe dentro dela? Será possível expor o que as entranhas escondem, de modo compreensível e significativo para alguma outra pessoa?

Ela passa por diversas músicas, diversos artistas... Mas nessas noites, ela costuma parar no velho Radiohead e ficar por ali mesmo, imersa na voz de Thom Yorke, repetindo continuamente que não quer alarmes e nem surpresas, por favor. O Radiohead que embala a mente que habita aquele corpo estranho, quase um microorganismo patogênico, diferente daqueles bilhões de outros que existem por aí, está presente agora, e esteve presente antes, diversas vezes. É uma cena que parece se repetir eternamente, que nunca terá um fim.

O recalque, muitas vezes (ou quase sempre) vem acompanhado de um sintoma. Dores no estômago, empolações na pele, choros sem causa aparente. Tudo por causa de um elemento dominante, tão insuportável como um demônio e tão necessário como oxigênio: o afeto. O que fazer com esse afeto espalhado, garota? Juntar tudo e colocar em um lugar só? Não, concentrar o afeto só faz o coração doer mais ainda. Dividir esse afeto de forma saudável? Talvez. Como?

No final das contas, essa jovem mulher se vê novamente no mesmo lugar que estava anos atrás, enquanto observava o céu alaranjado de dezembro pela janela aberta de seu quarto, estirada ao chão, deixando as lágrimas que caíam pela lateral de seu rosto inundarem o chão que sustentava sua pele pálida e seu corpo quase nu. Por que essas memórias insistem em invadir o coração dessa garota quando ela se vê sozinha? É como uma porta frequentemente arrombada, e que possui as laterais completamente gastas.

Onde estão vocês agora? Onde?

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