Ela o observava através do vidro quebrado. As rachaduras distorciam a face dele, multiplicando aquele olhar fundo e abatido, quase resignado, não fosse uma pitada de indiferença. Ela queria tocá-lo, mas não podia. Ele estava através do vidro. Ele olhava para algo que ela acreditava ser sua imagem desgastada e infeliz. Aquele olhar frio, que um dia fora sua principal fonte de vida. Tempos distantes. Ela não sabia medir esses tempos cronologicamente, mas o relógio que morava dentro de sua alma aflita, apontava uma única palavra: Forever.
Ele, com sua face um pouco baixa, parecia querer dizer algo, mas não tinha voz. Ela queria se ajoelhar diante dele e suplicar sua piedade, mas ele vomitava indiferença pelos olhos. Ela queria perguntar que tipo de homem ele era, mas sabia o vazio que a aguardava em tal resposta. Ela suplicava com o olhar.
De repente, ele se moveu. Ela correu em direção ao vido quebrado, e tentou atravessá-lo. Não se importava mais com feridas físicas. As que haviam em sua alma, eram deveras muito maiores. Cortou o braço na tentativa de passar para o outro lado do vidro.
Foda-se.
Aquilo não era nada.
Colocou as mãos sobre o vidro e pressionou-o. Em vão.
Ele tocou, através do vidro, as marcas das mãos dela, de leve, com uma espécie de receio ou nojo. O toque durou quase um segundo.
Ele se virou. Estava se afastando, indo embora. Ela gritava por dentro.
Enquanto andava, ele olhou para trás, e pela última vez, encarou-a com aquele olhar.
Partiu.
Ela estava nua, e o chão era gélido.
Ela nunca mais o viu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário